quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Semana de Arte Moderna de 1922


Você conhece a história da Semana de Arte Moderna de 1922? Evento que marcou para sempre a arte brasileira, a Semana fez parte das festividades em comemoração ao centenário da Independência do Brasil. Foi considerada como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural de nosso país a favor de um espírito novo e moderno que contrariasse a arte tradicional de teor conservador que predominava no Brasil desde o século XIX.

A Semana de Arte Moderna foi realizada entre os dias 13 e 18 de fevereiro de 1922, no Teatro Municipal de São Paulo. O festival contou com uma exposição com cerca de 100 obras de diversos artistas plásticos, entre eles os pintores Anita Malfatti, Di Cavalcanti, Ferrignac, John Graz, Vicente do Rego Monteiro, Zina Aita, Yan de Almeida Prado e Antônio Paim Vieira. A programação musical trazia composições de Villa-Lobos e Debussy, interpretadas por Guiomar Novaes e Ernani Braga, entre outros, e três sessões lítero-musicais noturnas, que tiveram a participação dos literatos e escritores Graça Aranha, Guilherme de Almeida, Mário de Andrade, Menotti Del Picchia, Oswald de Andrade, Renato de Almeida, Ronald de Carvalho, Tácito de Almeida, além de Manuel Bandeira, que, por motivos de saúde, não compareceu à Semana, mas enviou o poema Os Sapos, lido por Ronald de Carvalho na segunda noite do evento.
Aliás, a leitura do poema de Manuel Bandeira foi considerada como o principal momento da Semana. Com seus versos explicitamente provocativos e polêmicos, Os sapos teceu uma crítica aos parnasianos, grupo que ainda dominava o gosto do público brasileiro. Por esse motivo, o poema foi lido sob protestos da plateia, que reagiu por meio de vaias e gritos, comoção exagerada que acabou interrompendo a sessão.


Os Sapos
Enfunando os papos, 
Saem da penumbra, 
Aos pulos, os sapos. 
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra, 
Berra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi à guerra!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

O sapo-tanoeiro, 
Parnasiano aguado, 
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo 
Em comer os hiatos! 
Que arte! E nunca rimo 
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom 
Frumento sem joio. 
Faço rimas com 
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquenta anos 
Que lhes dei a norma: 
Reduzi sem danos 
A fôrmas a forma. 

Clame a saparia 
Em críticas céticas:
Não há mais poesia, 
Mas há artes poéticas..." 
Urra o sapo-boi: 
- "Meu pai foi rei!"- "Foi!" 
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!". 

Brada em um assomo 
O sapo-tanoeiro: 
- A grande arte é como 
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário. 
Tudo quanto é belo, 
Tudo quanto é vário, 
Canta no martelo". 

Outros, sapos-pipas 
(Um mal em si cabe), 
Falam pelas tripas, 
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!". 

Longe dessa grita, 
Lá onde mais densa 
A noite infinita 
Veste a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo, 
Sem glória, sem fé, 
No perau profundo 
E solitário, é 

Que soluças tu, 
Transido de frio, 
Sapo-cururu 
Da beira do rio...
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Manuel Bandeira


Na fotografia, os organizadores da Semana de Arte Moderna, entre eles Guilherme de Almeida e Mário de Andrade
Com ideais diametralmente opostos ao Parnasianismo, que prezava a objetividade temática, o culto à forma, a impessoalidade e a “arte pela arte”, os modernistas recusavam a arte tradicional e propunham alinhamento com toda produção artística moderna, sobretudo um alinhamento com as vanguardas europeias – Cubismo, Futurismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo. Tantas inovações em um contexto ultraconservador, no que dizia respeito às artes, naturalmente não seriam bem-vistas, um dos motivos que abafaram a divulgação do evento. A Semana de Arte Moderna não alcançou grande repercussão à época, não merecendo mais do que poucas colunas nos principais jornais de São Paulo, contudo, sua importância histórica foi devidamente reconhecida com o passar dos anos.
Embora não houvesse um projeto artístico em comum que unisse as várias tendências de renovação apresentadas durante a Semana de Arte Moderna de 1922, havia, porém, um mesmo desejo que agregava os artistas: o de combater a arte tradicional. O evento não foi propriamente um acontecimento construtivo de propostas e criação de novas linguagens, mas sim um acontecimento organizado para expor a rejeição ao conservadorismo vigente na produção literária, musical e visual brasileira na segunda década do século XX. Conforme dito por Mário de Andrade em uma conferência realizada em 1942 por ocasião dos vinte anos da Semana de Arte Moderna de 1922, “o Modernismo, no Brasil, foi uma ruptura, foi um abandono de princípios e de técnicas consequentes, foi uma revolta contra o que era a Inteligência nacional”. Essa ruptura drástica proposta pelos primeiros modernistas abriu caminhos para outros escritores e influenciou significante toda a literatura produzida não só durante o século XX, mas também a literatura contemporânea.

Por Luana Castro
Graduada em Letras
Arte de Di Cavalcanti na capa do programa da Semana de Arte Moderna de 1922
PEREZ, Luana Castro Alves. "Semana de Arte Moderna de 1922"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/semana-arte-moderna-1922.htm. Acesso em 06 de fevereiro de 2020

Exercícios

1 - QUESTÃO:

Sobre a Semana de Arte Moderna, é incorreto afirmar:
a)      evento realizado em São Paulo no ano de 1922, tinha como principal objetivo ratificar os padrões estéticos vigentes à época frente às investidas de um grupo de jovens artistas que propunha a renovação radical no campo das artes influenciados pelas vanguardas europeias.
b)      o principal foco de descontentamento com a ordem estética estabelecida estava no campo da literatura (e da poesia, em especial). Exemplares do Futurismo italiano chegavam ao país e começavam a influenciar alguns escritores, como Oswald de Andrade e Guilherme de Almeida.
c)      Alvo de críticas e em parte ignorada, a Semana não foi bem entendida em sua época. Esse evento ocorreu no contexto da República Velha, controlada pelas oligarquias cafeeiras e pela política do café com leite. O capitalismo crescia no Brasil, consolidando a República e a elite paulista, esta totalmente influenciada pelos padrões estéticos europeus mais tradicionais.
d)      Os modernistas não apresentavam um projeto estético em comum, mas entre eles imperava a ideia de que era preciso renovar, dar às artes características genuinamente brasileiras. Para os jovens artistas, era indispensável a ruptura com a tradição clássica para abolir os moldes europeus que ditavam as regras na literatura, nas artes plásticas, na arquitetura, na música etc.
e)      A Semana de Arte Moderna de 1922 foi uma consequência do nacionalismo emergente da Primeira Guerra Mundial e também do entusiasmo dos jovens intelectuais brasileiros pelas comemorações do Centenário da Independência do Brasil.
2 - QUESTÃO (Enem 2012)
O trovador
Sentimentos em mim do asperamente
dos homens das primeiras eras...
As primaveras do sarcasmo
intermitentemente no meu coração arlequinal...
Intermitentemente...
Outras vezes é um doente, um frio
na minha alma doente como um longo som redondo...
Cantabona! Cantabona!
Dlorom...
Sou um tupi tangendo um alaúde!
ANDRADE, M. In: MANFIO, D. Z. (Org.) Poesias completas de Mário de Andrade. Belo Horizonte: Itatiaia, 2005.
Cara ao Modernismo, a questão da identidade nacional é recorrente na prosa e na poesia de Mário de Andrade. Em O trovador, esse aspecto é
a)      a) abordado subliminarmente, por meio de expressões como “coração arlequinal”, que, evocando o carnaval, remete à brasilidade.
b)      b) verificado já no título, que remete aos repentistas nordestinos, estudados por Mário de Andrade em suas viagens e pesquisas folclóricas.
c)      c) lamentado pelo eu lírico, tanto no uso de expressões como “Sentimentos em mim do asperamente” (v. 1), “frio” (v. 6), “alma doente” (v. 7), como pelo som triste do alaúde “Dlorom” (v. 9).
d)      d) problematizado na oposição tupi (selvagem) x alaúde (civilizado), apontando a síntese nacional que seria proposta no Manifesto Antropófago, de Oswald de Andrade.
e)      e) exaltado pelo eu lírico, que evoca os “sentimentos dos homens das primeiras eras” para mostrar o orgulho brasileiro por suas raízes indígenas

3 - QUESTÃO (UDESC)
A Semana da Arte Moderna de 1922 tinha como uma das grandes aspirações renovar o ambiente artístico e cultural do país, produzindo uma arte brasileira afinada com as tendências vanguardistas europeias, sem, contudo, perder o caráter nacional; para isso contou com a participação de escritores, artistas plásticos, músicos, entre outros. Analise as sequências que reúnam as proposições corretas em relação à Semana da Arte Moderna.
I. O movimento modernista buscava resgatar alguns pontos em comum com o Barroco, como os contos sobre a natureza; e com o Parnasianismo, como o estilo simples da linguagem.
II. A exposição da artista plástica Anita Malfatti representou um marco para o modernismo brasileiro; suas obras apresentavam tendências vanguardistas europeias, o que de certa forma chocou grande parte do público; foi criticada pela corrente conservadora, mas despertou os jovens para a renovação da arte brasileira.
III. O escritor Graça Aranha foi quem abriu o evento com a sua conferência inaugural "A emoção estética na Arte Moderna"; em seguida, apresentou suas obras Pauliceia desvairada e Amar, verbo intransitivo.
IV. O maestro e compositor Villa-Lobos foi um dos mais importantes e atuantes participantes da Semana.
V. As esculturas de Brecheret, impregnadas de modernidade, foram um dos estandartes da Semana; sua maquete do Movimento às Bandeiras foi recusada pelas autoridades paulistas; hoje, umas das esculturas públicas mais admiradas em São Paulo.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo.
a)      a) II, III e V.
b)      b) II, IV e V
c)      c) I e III.
d)      d) I e IV.
e) II e V.

3.    QUESTÃO 
A Semana de Arte Moderna é considerada como um divisor de águas para a cultura brasileira porque:
a)      propôs a continuação da tradição e o apego à literatura clássica, mas, ao mesmo tempo, deixou-se influenciar pelos movimentos de vanguarda que eclodiam na Europa no início do século XX.
b)      antecipou as renovações artísticas que só se consolidariam a partir da década de 1950 com o Concretismo, corrente literária liderada pelos poetas Décio Pignatari e os irmãos Haroldo e Auguso de Campos.
c)      foi considerada como a primeira manifestação coletiva pública na história cultural de nosso país em favor de um espírito novo e moderno que contrariasse a arte tradicional de teor conservador que predominava no Brasil desde o século XIX.
d)     uniu técnicas literárias de maneira inédita na literatura, mesclando as influências oriundas das vanguardas europeias com o Naturalismo e o Simbolismo, estéticas em voga no século XIX. Essa simbiose temática proporcionou a criação de uma nova linguagem, que em muito lembrava aquela empregada no período Barroco de nossa literatura



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