terça-feira, 19 de abril de 2022

Aulas presenciais e provas causaram crise de pânico em escola de Recife.

 


"Parecia uma cena pós-apocalíptica. Nunca tinha visto nada parecido com aquilo." O desabafo é de uma adolescente de 17 anos, aluna de uma escola estadual do Recife, sobre cenas vistas por estudantes e funcionários da Escola de Referência em Ensino Médio Ageu Magalhães. Vinte e seis alunos dos mais de 500 tiveram uma crise de ansiedade no início da tarde de 8 de abril e precisaram de atendimento médico. Falta de ar, crise de choro, sudorese e taquicardia foram os principais sintomas apresentados pelos adolescentes.

Seis ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) foram encaminhadas para a escola, no bairro de Casa Amarela. Os jovens foram atendidos deitados no chão do pátio, sobre a grama e em cadeiras. Nenhum deles precisou ser hospitalizado. A escola funciona em tempo integral e os alunos permanecem na unidade das 7h30 às 17h.

"Estava tudo normal pela manhã. Quando tocou o intervalo para o almoço, nós descemos. Eu estava almoçando e vi as primeiras pessoas passando mal. Achei até que fosse intoxicação alimentar", detalhou a aluna do terceiro ano.

As cenas relatadas pelos estudantes e registradas em vídeos que circularam nas redes sociais revelam um cenário de pânico. "Liberaram a gente depois da prova e quando eu saí já estava um caos no colégio. Havia muitas pessoas desmaiadas e outras chorando. Na hora, fiquei sem reação", completou a estudante, que não apresentou sintomas.

A Secretaria de Educação e Esportes afirmou que houve uma crise de ansiedade coletiva. Uma aluna do 1º ano teria passado mal dentro da sala de aula, antes de realizar uma prova. Ela perdeu os sentidos e foi levada pelos colegas à secretaria da escola, quando perceberam que ela não estava melhorando. Essa informação ganhou os corredores do colégio e outros adolescentes começaram a entrar em desespero.

Os estudantes estavam em semana de provas, o que, segundo adolescentes ouvidos por TAB, pode ter contribuído para o surgimento dos sintomas. Por quase dois anos, as aulas não estavam acontecendo de maneira presencial. Com a redução dos casos confirmados e mortes por covid-19, os estudantes voltaram às salas de aula em 3 de fevereiro.

“Gostei de ter voltado, mas acho que às vezes botam pressão demais e esquecem que, apesar de sermos estudantes, também temos problemas", pontuou a adolescente.

Aos 16 anos e no 3º ano do ensino médio, uma aluna da Ageu Magalhães conta que amigos dela estavam entre os atendidos pelo serviço médico. Ela também ficou na escola para apoiar os colegas. "Fiquei desesperada com aquela cena dentro da escola. Vi muitos desmaios, pessoas desesperadas e gente tendo crise. Amigos meus passaram mal também, mas eu não. Eu não fui para casa porque havia muita gente passando mal, e outras começaram a passar mal também. Então, tive que ficar para ajudar. Foi horrível. Acredito mesmo que foi crise de ansiedade, estavam acontecendo provas naquela semana", destacou a jovem.

Ao lado da Escola Ageu Magalhães funciona a Escola Técnica Estadual Dom Bosco. Ambas são em horário integral. Na terça-feira (12), as paradas de ônibus perto dos dois colégios estavam lotadas no final da tarde. Aluno da Dom Bosco, um adolescente de 16 anos contou que um amigo de 15 anos estava entre as vítimas. "Desde que as aulas voltaram, estamos com muitas atividades para fazer. Antes a gente estava em casa e fazia tudo pela internet. Agora ficou muito puxado", afirmou.


 

Ponto de ônibus que atende as saídas das escolas Dom Bosco e Ageu Magalhães, em Recife.

Desespero de uma mãe

Muitos alunos da Escola Ageu Magalhães moram perto do colégio. Essa proximidade fez com que alguns pais chegassem ao local quando os estudantes ainda eram atendidos pelo Samu. Foi o caso da mãe de uma adolescente de 15 anos, aluna do 1º ano. Ela contou ao TAB os momentos de desespero vividos naquela sexta-feira à tarde.

“Fiquei sabendo que minha filha estava passando mal porque um coleguinha dela me telefonou dizendo. Corri pra lá e encontrei minha filha deitada na grama, sem respirar direito", ressaltou a mãe da adolescente.

A estudante havia falado com a mãe por volta das 12h, enquanto almoçava. Até então, segundo a mãe, estava tudo tranquilo. À tarde, chegou a notícia. "Recebi a ligação por volta das 16h e quando cheguei na escola já havia seis ambulâncias do Samu e parte da avenida onde fica o colégio estava interditada", contou.

Um dos profissionais do Samu conversou com a mãe da estudante sobre o atendimento. "O paramédico disse que minha filha tinha apresentado saturação baixa e sudorese, mas ela não chegou a ir para o oxigênio como outros adolescentes. Passei cerca de 20 minutos com ela na escola e depois fomos para casa. Ela foi melhorando.".

A adolescente ainda tem crises de choro em casa e está com dificuldades para dormir. A mãe, assim como outros estudantes, reclama da carga horária da unidade de ensino. "Os alunos que estão no 1º ano têm nove horas de aulas todos os dias. É um ritmo muito puxado para eles, que antes tinham, no máximo, cinco horas de aulas por dia. A pandemia ainda não acabou e tudo isso ainda mexe muito com a cabeça dos estudantes, sobretudo dos mais novos", ressaltou a mãe da jovem.

A Secretaria de Saúde de Recife informou que enviou 16 profissionais em seis ambulâncias e duas motolâncias do Samu Metropolitano para fazer o atendimento a 26 estudantes de uma escola estadual e que identificou sintomas sem gravidade.



Apoio aos alunos

Direção, professores e demais funcionários da Escola Ageu Magalhães receberam os estudantes com conversas e acolhimento no retorno às aulas após o episódio de ansiedade coletiva. Os alunos só tiveram aulas até a quarta-feira (13), devido ao feriado da Páscoa.

Para a gerente da Regional Norte da Secretaria de Educação, Neusa Pontes, o longo período em que os jovens ficaram afastados da escola pode ter prejudicado nesse retorno presencial.

"Desde o retorno, mesmo no formato híbrido, nós temos trabalhado com os alunos essas questões. Na última semana ocorreu essa situação que na verdade se iniciou de uma crise de ansiedade, de angústia de um estudante. Então, foi como um efeito dominó, um passando mal após ver o outro mal também", declarou Neusa.

A gerente disse ainda que os alunos estavam na semana de avaliações, a primeira desde a volta às aulas presenciais. "Isso já gera uma certa angústia, uma certa ansiedade e mais ainda depois do período de isolamento", completou a gestora.

O acionamento do Samu foi realizado assim que vários alunos começaram a relatar falta de ar, tremor no corpo e ter crise de choro. Alguns alunos estavam tão nervosos que não conseguiram nem mesmo telefonar para os pais. "A gestão da escola viu que era algo de questão de saúde e não uma situação escolar possível de ser resolvida. O sistema de saúde foi acionado e as viaturas chegaram de imediato", destacou Neusa.

"Estamos agora todos juntos trabalhando nessa rede de apoio e proteção para encontrar estratégias que possam evitar que situações como essas voltem a acontecer", finalizou Neusa Pontes. Uma reunião entre pais e a direção da escola está prevista para a próxima semana.

Uma aluna do terceiro ano sugere que a escola passe a realizar palestras regularmente com os estudantes para falar sobre ansiedade. "Se os responsáveis parassem de focar nas cobranças pelos resultados do nosso estudo e trouxessem palestras sobre saúde mental, ajudaria bastante. Atualmente, essas conversas só acontecem no mês de setembro, que é o mês de combate ao suicídio", cobrou a adolescente.

 fonte: TAB UOL Noticias

 

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2020

Gurus da Qualidade: William Edwards Deming

Gurus da Qualidade: William Edwards Deming


Neste episódio da Serie Gurus da Qualidade, que são pessoas que contribuíram para a evolução da gestão da Qualidade ao longo da história, iremos falar sobre as contribuições de William Edwards Deming, considerado o “filósofo do movimento de qualidade”.

Quem foi William Edwards Deming?

Nascido em 14 de out de 1900 em Sioux City (USA), Deming se graduou em engenharia e em matemática pela Universidade de Wyoming em 1922. Após isso, foi para a escola de Minas do Colorado, realizando assim seu mestrado em Matemática e Física.

Com o doutorado terminado em 1928 em Yale, foi atuar no governo dos EUA, no departamento de agricultura (USDA), onde trabalhou como Físico Matemático no Laboratório de Pesquisas de Fixação do Nitrogênio. No período em que esteve diante do departamento, realizou 38 publicações sobre estatística.

Entre as décadas de 30 e 50, trabalhou como professor especial do Departamento Nacional de Padronização; foi professor de estatística e matemática; atuou também como chefe do Departamento de Matemática e Estatística da escola de Pós-Graduação do USDA; e em 1943 realizou a publicação do seu livro “Ajustamento Estatístico dos Dados”.

Também durante esse período, estudou Teoria Estatística na Universidade de Londres, e logo após publicou o livro “Palestras e Conferências em Estatística Matemática”.

Como Deming contribuiu para a Qualidade?

Buscando sempre uma melhoria significativa de processos nos EUA, durante o período da segunda guerra mundial, e posteriormente a ela, após 1950, Deming recebeu da JUSE (Japan Union of Scientists and Engineers) o convite para realizar palestras e conferências aos empresários japoneses, levando-os a realizar os métodos propostos por Deming para controle da qualidade e princípios da administração.

Essa mudança na visão e métodos pelos empresários japoneses fez com que a indústria japonesa começasse a liderar vários mercados em que concorria, dentre eles o automobilístico e tecnológico.

Tendo sucesso na implementação e implantação dessa nova visão, muitos especialistas consideram essa mudança de paradigma Japonês como o marco zero da história da qualidade no Japão. Com esse sucesso, o Japão criou em 1951 o Prêmio Nacional da Qualidade, Prêmio Deming, em sua homenagem.

Difusão do Ciclo PDCA (Plan – Do – Check – Action)

O PDCA é uma ferramenta da Qualidade utilizada no controle de processos. Muitos acreditam que foi uma criação de Deming, mas ao contrário do que pensam, esse ciclo foi criado por Walter A. Shewart na década de 20. 

Anteriormente, era conhecido como PDS (Plan – Do – See). Deming foi o responsável por uma melhora significativa no processo, que levou sua expansão para o Japão, e para uma melhor compreensão dos japoneses, mudanças foram necessárias, pois interpretavam o verbo see como uma atitude passiva de apenas ficar na expectativa. Deming conseguiu explicar de maneira adequada a interpretação do método, não sendo apenas ver ou revisar, e sim realizar alguma ação, take action em inglês. Com isso, foi adicionado o verbo action ao modelo, retirando o verbo take.

Assim o ciclo passou de “Plan – Do – See” para “Plan – Do – Check – Action’’, que posteriormente para melhoria e difusão ficou conhecido como “Ciclo Deming”, por todos que o utilizavam.

As 3 crenças de William Edwards Deming

Existem três crenças difundidas por Deming na gestão organizacional, são elas: constância de finalidade; melhoria constante; conhecimento profundo, cujas diretrizes são traduzidas em seus quatorze princípios para a qualidade:

  1. Crie constância de propósito;
  2. Adote a nova filosofia – vivemos em uma nova era econômica;
  3. Não dependa da inspeção para atingir a Qualidade;
  4. Pare de aprovar orçamentos com base nos preços;
  5. Aperfeiçoe constante e continuamente os processos da empresa (melhoria contínua);
  6. Institua treinamento no local de trabalho;
  7. Adote e estabeleça lideranças;
  8. Elimine o Medo;
  9. Quebre as barreiras entre os departamentos;
  10. Elimine slogans, exortações e metas da força de trabalho;
  11. Elimine quotas (padrões de trabalho) e metas numéricas;
  12. Remova as barreiras que roubam das pessoas o direito de orgulhar-se de seu trabalho;
  13. Estabeleça um programa rigoroso de educação e auto-aprimoramento;
  14. Coloque a empresa toda para trabalhar pela transformação.

As 7 doenças organizacionais

Em sua obra “Saia da Crise” (Out of the Crisis) de 1986, Deming propõe 7 pontos (ou 7 enfermidades mortais) que pode sofrer a gerência de uma organização. Essas enfermidades se opõem justamente aos três crenças que ele prega: à melhoria contínua, à constância de propósito e ao conhecimento organizacional. As 7 enfermidades organizacionais são:

  1. Falta de constância nos propósitos;
  2. Ênfase nos ganhos de curto prazo;
  3. Avaliação de Desempenho, classificação por mérito;
  4. Rotatividade dos executivos;
  5. Gestão da empresa baseado somente em cifra e números;
  6. Custos médicos excessivos;
  7. Custo excessivo de garantias.

Conclusão

Conforme vimos ao longo do artigo, graças ao empenho de William Edwards Deming, houveram diversas melhorias nos processos da qualidade no mundo todo. Ele ajudou a tornar as empresas que vivenciam sua filosofia mais competitivas, buscando a melhoria constante e a visão de longo prazo.

Tamanha foi sua contribuição, que até hoje ele é um dos nomes mais lembrados quando ao assunto é qualidade, excelência e gestão. Além disso, deixou diversas contribuições ao redor do mundo, vale lembrar que existe, inclusive, uma fundação chamada The Edwards Deming Institute, que busca enriquecer a sociedade por meio da filosofia de Deming.